BEM PARANÁ
“Já entrou um tico-tico lá”, diz Richa em gravação de delator

Gravações telefônicas e em vídeo entregues pelo ex-deputado estadual Tony Garcia, delator da Operação Radiopatrulha, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Paraná (MP-PR), fazem parte do inquérito responsável pela prisão, nesta terça-feira (11), do ex-governador Beto Richa (PSDB), da ex-primeira dama Fernanda Richa, e outros integrantes da cúpula do governo tucano.
Em um dos trechos de gravação telefônica, Richa agradece Tony Garcia: “já entrou um tico-tico lá que tava atrasado, obrigado”, diz.
De acordo com despacho do juiz Fernando Bardelli Silva Fischer, da 13ª Vara Criminal de Curitiba, Tony Garcia era quem recebia a propina e repassava o dinheiro a Richa, “que contava com o apoio de Pepe Richa, Luiz Abi, Ezequias Moreira e Deonilson Roldo para organizar o esquema criminoso e auxiliar na arrecadação dos valores ilícitos”.
Para o MP-PR, Richa é chefe de uma organização criminosa que fraudou uma licitação de mais de R$ 70 milhões para manutenção de estradas rurais, em 2011, a partir do aluguel de máquinas da iniciativa privada.
Um áudio de uma conversa, de novembro de 2013, entre o delator Tony Garcia e o então governador Beto Richa faz menção, segundo o MP-PR, ao atraso da propina que deveria ter sido paga por Celso Frare, empresário da Ouro Verde, uma das empresas beneficiadas pela licitação supostamente fraudada.
Conversa é transcrita no processo:
Tony: Você tem falado com o CELSO FRARE?
Beto: Falei.
Tony: Quando?
Beto: Falei, anteontem.
Tony: Aonde?
Beto: No almoço na casa dos (…) Mas assim, de receber, falar sozinho, não.
Tony: Ele não acertou o negócio aí.
Beto: Ahn?
Tony: Ele não acertou o negócio aí.
Beto: Ah! Ele me agradeceu, “já entrou um tico-tico lá que tava atrasado, obrigado”.
Tony: Isso.
Beto: Ele sabe que tá difícil sair, já pagaram uma parte… Bão…
Tony: Isso… Só que ele não pagou a parte que tem que pagar.
BETO: Se bobear, se não for pra cima, nós não…
TONY: Isso.
BETO: É você que ficou encarregado?
TONY: É eu que fiquei.
BETO: Então vai pra cima!
TONY: Vou pra cima, vou falar pra ele…
BETO: Eu não vou cobrar ele.
TONY: Não, você não pode! Nem você nem o PEPE.
BETO: Não sei de nada.
TONY: Deixa, você tem que ficar quieto. Fica na tua. Eu vou lá
falar com ele… O outro que eu tô pegando, firme, que também que é o mais que tá
recebendo e que não tá acertando, é o CASAGRANDE também. Já peguei ele também.
E agora pedi pro EZEQUIAS me ajudar. “EZEQUIAS só fala pra ele o seguinte ó, que
ele tem que fazer o que tá combinado com o PEPE”. O que ele tem que fazer. É o que
eu vou fazer com o CELSO e com o JOEL agora também. Entendeu?
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“Os indícios de autoria estão consubstanciados no conjunto de elementos probatórios que instruem este pedido, em especial no áudio de gravação ambiental de mov. 1.25, em que o próprio investigado trata de assuntos relacionados ao atraso do pagamento da propina com o colaborador TONY GARCIA”, destaca o juiz.
Vídeo no processo mostra homem que seria Celso Frare recolhendo dinheiro
Ao G1 Paraná, a Ouro Verde disse que Celso Frare, acionista e membro do Conselho de Administração da compania, prestou serviços de locação de máquinas e equipamentos pesados ao governo estadual entre abril de 2013 e julho de 2015, depois de a empresa vencer processo licitatório público.
Ainda de acordo com a Ouro Verde, todas as obrigações legais no âmbito da contratação foram cumpridas e que há, atualmente, cobrança judicial contra o Governo do Paraná por valores não pagos, apesar dos serviços prestados.
A empresa negou envolvimento em qualquer ato ilícito.
“A defesa do ex-governador Beto Richa até agora não sabe qual a razão das ordens judiciais proferidas. A defesa do ainda não teve acesso à investigação”, diz a assessoria de Richa em nota.