CELSO NASCIMENTO/GAZETA DO POVO
Engana-se quem imaginar que está superado o clima de tensão nos quartéis da Polícia Militar.
A polêmica troca do comando da corporação, na semana passada, não serviu para dissipar os muitos motivos de desagrado dos milicianos de alta patente com o governo estadual.
A simples substituição do coronel Marcos Scheremeta pelo colega Roberson Bondaruk não resolve atritos pendentes – uns antigos, outros bem recentes.
Presidente da Amai, associação que congrega ativos e inativos da PM, o coronel Elizeu Furquim, lamentou ontem que seu nome e o da entidade tenham sido usados como supostos autores de um longo manifesto em que, entre outras críticas ao governo de Beto Richa, acusa o secretário de Segurança, Reinaldo de Almeida César, como um dos responsáveis pelo “caos que se instalou na segurança pública paranense”.
O documento pede o imediato afastamento de Almeida César do cargo.
Furquim diz que o documento é apócrifo e que já tomou providências para identificar seus autores e levá-los à Justiça.
Entretanto, não nega que as queixas arroladas ao longo de suas 2 mil palavras são verdadeiras e que, de fato, representam o pensamento da maioria na corporação.
Entre as queixas está o mal-estar causado pelo modo como o ex-comandante Marcos Scheremeta soube de sua exoneração – isto é, pela imprensa, e sob a falsa alegação de que ele é que pedira afastamento por motivos pessoais.
O presidente da Amai, no entanto, minimiza este motivo como centro das reclamações da Polícia Militar.
Ele diz não acreditar que as relações pessoais do ex-comandante com chefes do jogo do bicho que atuam no Paraná tenham servido de motivação para o governo afastá-lo, pois a prioridade ao combate a essa contravenção sempre foi definida pelas autoridades superiores.
E aduziu: a PM, na gestão de Schremeta, não diminuiu sua rotina de atuação contra os cartéis do bicho.
Furquim cita pelo menos dois outros motivos de insatsifatação preexistentes, dentre os quais, o mais grave, a omissão do governo estadual quanto ao cumprimento da Emenda à Constituição n.º 64, que instituiu a remuneração dos militares por subsídio (e não mais por soldo) e impôs a exigência do diploma de curso universitário para ingresso na corporação.
“A emenda foi aprovada em abril e deveria estar sendo aplicada desde outubro passado, mas nada foi feito”, ressaltou Furquim.
Pouco mais recente foi a decisão do governo de “expropriar” o Hospital da PM – cuja manutenção provém de descontos nos salários dos militares – para integrar o sistema do Serviço de Assistência aos Servidores (SAS).
À revelia do comando e dos conselhos do Fundo de Assistência da Polícia Militar (FASPM), o hospital foi obrigado a passar a atender os 120 mil servidores estaduais da região metropolitana que antes serviam-se do Hospital São Vicente, cujo convênio com o SAS expirou no mês passado.
Este assunto não está ainda resolvido: o antigo comando e o fundo responsável pelo Hospital da PM recusaram-se a assinar o convênio com a Secretaria Estadual de Administração.
Atualmente, presta aos servidores apenas serviços de urgências e emergências, mas mantém a prioridade ao atendimento dos policiais militares.
A expectativa é que o novo comandante, empossado na semana passada, tenha mais chances para buscar a superação da crise entre a PM e o governo do estado.