O deputado Ney Leprevost (PSD) ocupou a tribuna da Assembleia Legislativa para alertar 34 deputados que pagam por serviços da empresa Gestor Político de que correm perigo. Ele mesmo pagava R$ 460,00 por mês em troca de serviços de manutenção de agendas do gabinete – enquanto o dono da empresa, Eduardo Carmona, também se dedicava a propagar “fake news” contra Ney, quando disputou as eleições para prefeito em 2016 com Rafael Greca.
Descobriu-se agora que 34 outros parlamentares também mantêm contratos com a Gestor Político.
Entendendo que o áudio vale mais do que 1.000 palavras, Leprevost gastou boa parte do tempo disponível para seus discurso para colocar no sistema de som da Assembleia o gravação em que Carmona confessa ter disseminado notícias falsas para favorecer Greca e, em duas eleições (2010 e 2014), para desconstruir adversários de Beto Richa.
O deputado alertou as bancadas que apoiam os candidatos ao governo Ratinho Jr. e Osmar Dias para que tomem cuidado. E mais: sugeriu que peçam a criação de uma CPI para se descobrir quem contratou Carmona na campanha de 2016, autor, segundo ele, de um dos maiores casos de estelionato eleitoral que o Paraná já viu.
Na tarde desta quarta, Leprevost enviou ofício à Polícia Federal pedindo a instauração de inquérito.
Criador do Sistema Gestor Político, Eduardo Carmona! Foto: Boca Maldita
A eleição para prefeito de Curitiba em 2014 pode entrar para a história como o mais pronto, acabado e confessado efeito que “fake news” podem produzir no resultado final.
A comprovação deste efeito deve-se à confissão gravada pelo próprio operador do sistema de multiplicação de maledicências por meio das redes sociais – o empresário Eduardo Carmona (foto), dono da empresa Gestor Político, que, sob encomenda da coordenação de marketing da campanha de Rafael Greca, contribuiu para a “virada” do humor do eleitorado de Curitiba que acabou derrotando o favorito, deputado Ney Leprevost.
Ouça neste áudio como Carmona conta como funciona sua “indústria” e como ela influenciou para dar a vitória a Greca:
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Acompanhe o histórico:
Fechadas as urnas do primeiro turno, em 4 de outubro, Greca sobrepujou os adversários conseguindo passar para o segundo turno ao obter nas urnas 38% dos votos, contra 24% dados ao segundo colocado, Leprevost, que ficou com 24%. O ex-prefeito Gustavo Fruet, que concorria à reeleição, fez 20%.
Iniciada a campanha de segundo turno, entre Greca e Leprevost, as primeiras pesquisas indicavam uma grande mudança de cenário. Leprevost foi favorecido pela migração do eleitorado de Fruet e pelo desgaste que Greca vinha sentindo em decorrência de suas desastradas declarações (que não foram fakes) de que cheiro de pobre lhe provocava vômitos.
Dia 11 de outubro, uma semana após o pleito, pesquisa Opinião registrada no TRE, considerando apenas os votos válidos, indicava que Leprevost faria 52,5% dos votos, enquanto Rafael Greca alcança 47,5%.
No dia 21, o Ibope confirmava os mesmos índices: 53 a 47.
Com a eleição já praticamente definida, a campanha de Greca intensificou o uso de “fake news” para desconstruir Ney Leprevost. Além do uso nos programas eleitorais de denúncias que depois se revelaram falsas – como os casos da suposta apropriação de um terreno do Instituto dos Cegos e de que o adversário tinha comprado diploma universitário -, as redes sociais foram inundadas por outros ataques de calibre grosso.
A partir daí, o eleitorado se moveu rapidamente para favorecer Greca, que deixou de lado propostas de governo para se dedicar quase exclusivamente à desconstrução do adversário. Dia 30 de outubro, menos de dez dias depois da inclusão das “fake news” como método de campanha, as urnas deram vitória a Greca, com margem de 53% a 47% dos votos.
Enquanto eleitos montam suas equipes e antigos aliados tentam se entender após atritos na campanha, a eleição ainda não acabou em Içara, no sul de Santa Catarina.
Num caso único no país, uma urna na cidade quebrou e não foi possível recuperar 287 votos do primeiro turno.
De 8.755 urnas trocadas no Brasil neste pleito, apenas nessa houve esse problema, segundo a Justiça Eleitoral.
Tentou-se de tudo dentro do previsto na lei eleitoral: transferiram a memória da urna para outras quatro urnas reservas, que não funcionaram.
Trocou-se a memória da urna com defeito –nada.
Alpino
Natural de Içara, onde houve a pane, candidato a deputado não se reelegeu por 38 votos
O impasse atrasou o fechamento da seção em duas horas –cerca de 60 eleitores desistiram e foram embora.
Partiu-se então para a votação com cédula. Outros 43 eleitores votaram e tiveram os votos computados.
Mas, como não foi possível recuperar os eletrônicos, a junta responsável pela seção 458 da 79ª Zona Eleitoral anulou os 287 votos anteriores.
O episódio provavelmente passaria despercebido se não fosse por um detalhe.
O deputado estadual Dóia Guglielmi (PSDB), que não se reelegeu por apenas 38 votos, é natural de Içara e teve uma média de exatos 38 votos nas outras três seções da escola da urna pifada (32 numa seção, 40 e 42 nas outras).
Quem acabou eleito pela coligação foi o ex-deputado federal Dr. Vicente (PSDB), que tem base eleitoral no outro extremo do Estado e teve apenas três votos em Içara, onde Guglielmi foi o mais votado (obteve 4.489 votos, ou 15% do total da cidade).
Resultado: representando a coligação PSDB-PEN, um advogado indicado pelo derrotado recorreu à Justiça Eleitoral e pediu uma perícia na urna.
Se não for possível encontrar os votos fujões, solicitou de antemão a anulação da eleição naquela seção.
No último dia 15, a juíza eleitoral Bárbara Thomaselli acatou o pedido e mandou fazer a perícia.
“Tudo leva a crer que a contagem de todos os votos modifique sua situação [de Guglielmi]”, escreveu.
Nesta semana, o Tribunal Regional Eleitoral de SC ratificou a decisão e aprovou uma audiência pública para realização da perícia na urna –que desde então está lacrada.
Determinou ainda que técnicos do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) acompanhem a audiência para, se preciso, tentar a última cartada: a decriptografia da urna –recuperação de dados previamente criptografados (ou seja, serão “desembaralhados”).
Como o TSE não havia confirmado a participação até quinta (30), a data da audiência continuava em aberto.
Enquanto isso, o deputado eleito Dr. Vicente não sabe se prepara a mudança de Jaraguá do Sul para a capital.
“É uma situação desconfortável e estranha”, disse ele à Folha, pelo fato de sua própria coligação ter recorrido.
Em nota, o PSDB-SC negou “qualquer atitude para privilegiar um candidato em detrimento de outro”.
Disse que irá acatar a decisão judicial.
Guglielmi não respondeu à Folha.
Numa rede social, um correligionário compartilhou: “Anulação de 287 votos em Içara, baita sacanagem…. tem que ver isso”.
Partido quer que TSE crie comissão para avaliar sistema utilizado no pleito
Deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), durante entrevista em Brasília (Fábio Rodrigues Pozzebom/ABr/VEJA)
Quatro dias depois das eleições, o PSDB ingressou no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) nesta quinta-feira com um pedido de auditoria sobre o resultado das eleições presidenciais.
O partido, derrotado pela presidente Dilma Rousseff por uma diferença de três pontos, quer que a corte crie uma comissão especial formada por representantes indicados pelos partidos políticos para avaliar a fiscalização dos sistemas utilizados no pleito.
Na ação, o coordenador Jurídico Nacional do PSDB, o deputado federal Carlos Sampaio, ressaltou que, passadas as eleições, surgiram uma série de denúncias e desconfianças por parte da população.
“Nas redes sociais, os cidadãos brasileiros vêm expressando, de forma clara e objetiva, a descrença quanto à confiabilidade da apuração dos votos e a infalibilidade da urna eletrônica, baseando-se em denúncias das mais variadas ordens, que se multiplicaram após o encerramento do processo de votação, colocando em dúvida desde o processo de votação até a totalização do resultado”, diz.
Tendo em vista “dissipar quaisquer dúvidas”, Sampaio pede uma auditoria nos sistemas de votação com base em diversos documentos, como as cópias de boletins de urnas de todas as sessões eleitorais do país e dos logs originais e completos das urnas, além de todas as ordens de serviços e registros técnicos sobre atualização e manutenção do sistema e acesso aos programas e todos os arquivos presentes nas urnas eletrônicas.
No último domingo (26), a TV Amapá, retransmissora da Globo, exibiu reportagem sobre o encontro de José Sarney com a urna.
As lentes da emissora filmaram o morubixaba do PMDB de um ângulo que não favoreceu suas relações com a aliada Dilma Rousseff. O senador aparece pressionando as teclas da urna eletrônica.
Adversários de Sarney aproximaram a imagem. Percebe-se, então, que o aliado do petismo pressionou os números 4 e 5.
O diabo é que 45 é o algarismo de Aécio Neves. O de Dilma Rousseff é 13. A assessoria do senador diz que o vídeo não é verdadeiro.
Sarney conhece Aécio desde o tempo em que foi vice do avô dele, Tancredo Neves. Eleito presidente da República no colégio eleitoral, Tancredo morreu na véspera da posse.
E Sarney, egresso da ditadura que definhava, herdou a cadeira de presidente. Desde então, mantém com Aécio um relacionamento afetuoso.
Quer dizer: a despeito da tentativa de desmentido, a traição a Dilma encontraria justificativas no mais profundo recôndito da alma.