COLUNA DE CELSO NASCIMENTO/GAZETA DO POVO
“Sonegar a transmissão do discurso da presidente da República foi um ato de mesquinharia, uma sordidez extraordinária.”
As palavras são textuais do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, ao tomar conhecimento de que a Televisão Educativa pôs no ar apenas as falas do governador Beto Richa e do prefeito Luciano Ducci na cobertura da solenidade de liberação de recursos federais para a obra do metrô de Curitiba, na última quinta-feira.
O discurso de Dilma Rousseff ficou de fora da cobertura – cortada abruptamente pela apresentação do programa infantil Turma do Cocoricó.
Paulo Bernardo faz uma concessão: ele diz acreditar que o governador Beto Richa não sabia da omissão e que a decisão de suprimir o pronunciamento da presidente “deve ter partido da pequenez de setores subalternos do governo”.
O que não lhe tira outra convicção: com essa atitude, a Educativa voltou aos tempos do governo Requião, quando a emissora servia apenas aos propósitos políticos do governante.
“Ninguém podia esperar isso do atual governo” – ressaltou Bernardo – “principalmente porque não faltou apoio do governo federal e o empenho pessoal da presidente e da ministra Gleisi Hoffmann para viabilizar o metrô curitibano.”
A direção da emissora teria cometido apenas uma gafe involuntária? Podem ser alegados motivos técnicos? Foi uma interferência da Radiobrás na programação da Educativa, como explicou sua direção?
Tudo isso é possível – coisa, no entanto, que deverá ser esclarecida nos próximos dias se for acatado o pedido de providências que o diretório municipal do PT encaminhou ao Ministério das Comunicações na sexta-feira.
A primeira manifestação do titular do ministério aponta, no mínimo, para a vontade de investigar.
O episódio talvez tenha dado os primeiros tons com que será pintada a campanha para prefeito de Curitiba no ano que vem.
A cordialidade entre as autoridades federais, estaduais e municipais que dividiram o palco na solenidade de quinta-feira pode ter apenas disfarçado a existência, ali, de dois lados já bem definidos na disputa pela prefeitura.
Um dos lados, o do governador Beto Richa (PSDB) e do prefeito Luciano Ducci (PSB), empenhado na reeleição; de outro o PT, cada vez mais simpático à ideia de apoiar o neopedetista Gustavo Fruet.
De preferência já desde o primeiro turno. Da mesma simpatia, segundo consta, já compartilha a presidente Dilma Rousseff.
A eleição de prefeito será apenas o primeiro tempo da partida que só terminará em 2014.
Mas quem se sair melhor em 2012 terá mais chances de ganhar o jogo dois anos depois – Beto Richa disputando a reeleição versus Gleisi Hoffmann.
16 de outubro de 2011
ATITUDE DESRESPEITOSA A UMA HIERARQUIA. A PRESIDENTA É A PRIMEIRA POLÍTICA DO PAÍS, NA ESCALA, GOVERNADORES FICAM ABAIXO .
NEM SEMPRE UM BOM PROFISSIONAL OU UM BOM POLÍTICO PRODUZ UMA CRIA AO SEU MODELO.